O gênero de música Trap surgiu no começo dos anos 2000 como um subgênero do Rap, seu berço é localizado no sul dos EUA, mais especificamente Atalanta. A palavra “Trap” é uma gíria americana usada para designar localidades perigosas, geralmente periferias que sofrem com a desigualdade social e estão cercadas por gangues. É em meio a este ambiente que surgem as letras do Trap, relatando a realidade vivida por estas localidades, assuntos como política e direitos humanos são semelhantes ao estilo do Rap, porém o Trap também acrescenta uma pegada mais agressiva, como se fosse um estilo Punk se comparado ao Rock, por retratar também sobre drogas, sexo, crimes e violência. O novo estilo de música derivado do Rap surgiu no Brasil por volta de 2014, artistas como Naio Rezende e Raffa Moreira disputam de forma saudável o título de pioneiros do Trap no País. Mas sendo sincero, pouco importa a origem do estilo musical, a verdade é que nos últimos anos o povo brasileiro ganhou muito com os sons de Trap e os excelentes artistas que tem aparecido em nosso País. Ultimamente os eventos mais badalados da música no Brasil tem praticamente presença carimbada de Trap Stars brasileiros, um exemplo, na última edição do Festival Lolapalooza que ocorreu nos dias 25, 26 e 27 de março estavam presentes os artistas Matuê, que segundo reportagem com os integrantes do portal Rap+, é o melhor Trapper Brasileiro, apresentando músicas a nível dos artistas mundiais, também estavam presentes o Rapper/Trapper Djonga, mineiro que costuma trazer em suas letras críticas ao governo e a desigualdade social e a dupla Hyperanhas composta por Nath Fischer e Andressinha, donas do Hit “Gelo no Copo” que coleciona mais de 28 milhões de visualizações no Youtube. Além dos festivais de música mais famosos, não podemos deixar de falar dos próprios eventos de Trap no Brasil, no mês de fevereiro ocorreu no Rio de Janeiro o Rep Festival, que moveu para a parque dos atletas pessoas de todo o país, totalizando com os dois dias de evento mais de 80 mil telespectadores, 30 horas de música ao vivo, 3 palcos simultâneos e mais de 50 artistas que formaram a line-up do evento, entre eles Matuê, Baco Exu do Blues, Djonga, BK, PK, Filipe Ret, Azzy, Budah, Poesia Acústica, Cone Crew, L7nnon, Xamã, Black Alien, Costa Gold e Cynthia Luz, entre outros...
Acho que tudo se reflete na imagem, e conseguir enxergar um espelho em quem ta sendo representado. É legal ver a autoestima dos homens pretos da periferia melhorando, das mulheres pretas, pessoas trans e lgbt+, conforme enxergam seus corpos sendo representados” (Portal Rap+) Além da representatividade o movimento também apresenta forte presença política, sendo muitas vezes a voz de resistência na música contra um governo que em inúmeros casos já se mostrou repressor contra controvérsias as suas diretrizes. Como mencionado anteriormente, O rapper/Trapper Djonga é um dos principais artistas com letras que contradizem o Governo, no último evento do Lolapalooza o mineiro puxou durante seu show um coro contra o Presidente Jair Bolsonaro (PL) e foi punido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com uma multa de R$ 50 mil. E não parou por aí, o artista ainda xingou o presidente e declarou: "Eu odeio o Bolsonaro, nós odeia o Bolsonaro. Se você gosta, problema seu" Mesmo após a multa o artista não se sentiu abalado, no fim de semana passado (09/04) em show no estádio Mineirão o cantor se apresentou com a clássica camisa amarela da seleção brasileira, tal camisa que ultimamente foi acolhida pelos eleitores do Presidente Bolsonaro para representar o forte patriotismo, durante sua apresentação o artista discursou: “Com essa camisa aqui é mais gostoso de ouvir vocês gritando, porque os caras acham que tudo é deles, eles se apropriam do tema família, eles se apropriam do nosso hino, eles se apropriam de tudo, mas é o seguinte, é tudo nosso, e nada deles”. Tais atitudes vindas do movimento do Trap/Rap vem incomodando a elite brasileira e o Governo, gerando repressão e até mesmo preconceito pelo estilo musical, eles também alegam que os artistas trazem em suas músicas somente temas banais como sexo e uso de drogas. Foi questionado ao portal Rap+ o por que deste incomodo e a equipe afirmou: “Todos os movimentos de contracultura brasileiros sofrem ou já sofreram por discriminação, independente de falar ou não sobre desigualdade. Acho que o movimento do Hip Hop incomoda a partir do momento em que torna pessoas da periferia em ícones nas mídias. Pessoas que historicamente são invisibilizadas e postas em um lugar de coadjuvante. Então independente do enredo ou da bandeira que levante, a elite sempre terá repulsa do hip-hop, porque estamos ocupando um espaço, que antigamente era reservado apenas para a elite. Resumindo, não é o que o Hip Hop fala, e sim o que e a quem ele representa”. Quanto as afirmações sobre o tema “banal” das músicas foi dito pelo Portal: “Acho que já se tornou bastante caricato falar desses temas e se apoiar no debate de que está 'retratando a realidade onde vive'. Dizer isso, é reforçar o estereótipo de que as favelas e periferias têm. Uma prova disso, é que grande parte dos filmes internacionais ambientados no Brasil, são feitos em um recorte hostil, como velozes e furiosos, por exemplo. Há muito mais a ser representado nesses espaços, do que realmente representam, como o amor, a fraternidade e coletividade”. Segundo dados da plataforma de música Spotify Brasil, desde 2016 até o começo de 2022 o Trap cresceu em média 61% ao ano, consumida principalmente pela juventude brasileira e contando com inúmeros Hits próprios que vão muito além de apenas curtição, mas sim um estilo de vida e um viés político que já não mais pode ser chamado como o futuro da música, mas sim o presente por já estar influenciando e tocando em todos os cantos do País.
A primeira edição do Mainstreet Festival, Festival de Trap que rolou no Riocentro, Rio de Janeiro, no dia 05 de maio de 2023. Entre as atrações estvão Wiz Khalifa, Orochi, Poze, Djonga, Xamã e Slipmami.
Membro do selo Recayd, Dfideliz se debruça sobre essa questão em dois momentos no single “Preto Todo de Ouro”. No primeiro ele diz: “Você se assusta se ele [homem preto] usa terno, o mais normal é ele tá armado/ Só que ser rico hoje tá facinho, na real eu que mudei esse fato”. O segundo vem em: “Só que para, pensa e vê: um ano atrás eu não era ninguém/ Me dá maior raiva de ficar famoso, que só aí que eu virei alguém”.Ao conversar com o trapper no meio do contexto caótico de saúde, política e racismo do Brasil, ele ressalta que “esse tipo de luta é uma coisa que influencia toda nossa raça, todas as pessoas que têm a mesma vivência. Eu tenho muito medo que a gente volte à era da ditadura, mas essa causa [racial] que a gente está vivendo é mais complicada, porque, hoje em dia, as coisas estão muito mais superficiais. A gente lida com as pessoas que nos odeiam e as pessoas que fingem gostar de nós, é muito frustrante. Não consigo acordar tranquilo, pegar o celular, ver notícias sobre pessoas da mesma cor que eu morrendo e não sentir isso como um reflexo”.
Como mais um gênero musical derivado do hip-hop, o trap não escapa desse contexto de usar roupas impotadas e viver a luxuria. No mundo todo, a moda está presente nas rimas, na personalidade e no universo estético de cada artista trapper. A forma como cada um se veste torna-se, rapidamente, sua assinatura. No Brasil, por exemplo, a inserção de marcas de luxo no imaginário dos trappers é algo bem evidente. Balenciaga, Louis Vuitton, Lacoste, Saint Laurent e Versace são as mais mencionadas. E isso compõe um dos três pilares da estética do trap, a ostentação.
Porém, antes de mais nada, convém explicar que ostentação não é sinônimo de alienação. Marcas, logos e etiquetas há tempos são significadores de classe e pertencimento — na moda e no mundo. Vestir uma roupa de determinada label pode indicar status social, conhecimento de causa ou ser porta de entrada para grupinhos seletos e excludentes. Porém, quando falamos disso em um contexto de luta contra o racismo estrutural, a história é um pouco diferente.Ostentação na voz e corpo de quem é excluído sistematicamente de uma visão de humanidade e ascensão econômica é revolta. É uma rasteira no sistema racista e na herança colonial que vigora até hoje. O que realmente significa ostentar marcas de lojas que não te deixam entrar? Vale a pena dar dinheiro e cantar sobre um mundo que não quer ter você como parte dele? Dentro do conceito de “black money” existem longas e complexas discussões sobre quão produtivo é financiar marcas historicamente racistas.
Fenônemo do trap nacional, a Recayd Mob é inovadora: um coletivo não apenas de artistas, mas de profissionais de toda a cadeia do entretenimento, como fotógrafos e videomakers. Cobrir a cena musical brasileira em 360° fez com que o videoclipe “Plaqtudum”, lançado no fim de 2018, atingisse 100 milhões de visualizações no Youtube. "Acredito que o sucesso também venha por conta da estética do Trap, que ainda é nova no país, não é apenas a música, mas é o estilo, nossas roupas, a forma com que vivemos", disse Jé Santiago um dos integrantes do grupo .